sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sobre a vida

A vida é levar uma gaita na bolsa, esquecer o casaco, assistir uma peça, pegar um ônibus, atravessar a ponte no final da tarde, comer um croissant, dividir um açaí, voltar pra casa e beber suco de acerola antes de deitar.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O menino

Enquanto seus amigos aprendiam a jogar futebol
o menino aprendia a observar as andorinhas
ele gostava de analisar as penas e os tons...
Os anos se passaram,
os meninos foram crescendo
viraram médicos, engenheiros, arquitetos...
e se afastaram daquele menino
que não sabia nada de futebol, nem de números
aquele menino se especializou em andorinhas
e virou poeta.
Ele sabia tudo sobre os pássaros
até conseguia enxergar a cor dos cantos
ele não era só,
ele escobriu que com o lápis
podia criar outros meninos que também
gostasse de andorinhas...
eles gostavam mais de penas que de carros
mais de canto que de casas
enquanto seus antigos amigos
aprendiam sobre economia
ele e seus novos amigos
aprendiam a voar.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre o parto da Frida

A Frida pariu três florzinhas nessa madrugada. Finalmente!
Elas ainda estão assim, meio tímidas, mas muito presentes, nunca se escondendo, tão novinhas e já mantendo um equilíbrio incrível - Ao contrário de mim, que sempre busco o equilíbrio, mas vira e mexe me pego comedindo e às vezes me dou ao exagero - São um exemplo! A Frida ainda está meio fraquinha, cansada. Acontece que cheguei de viagem sábado à noite, ela ficou alguns dias sem beber água e pela segunda vez quase cometeu suicídio, por bem pouco não partiu dessa pra melhor. A Frida, embora hoje já seja uma mãe de família, tenha três filhas pra criar e mais de 6 meses de vida, ainda é muito dependente de mim, é meio melancólica também, e se eu fico fora uns dias, ela fica assim, com preguiça de viver, é difícil compreender esse comportamento, mas acho que começo a entender como lidar com as plantas. Sabe aquela filosofia sobre a ''dualidade do Ser'', do Milan Kundera? Está me ajudando! Às vezes eu quase me sinto num romance filosófico meio a "A Primavera de Praga".
Pois sim, voltando ao parto da Frida, quero compartilhar que fiquei muito realizada com essa demonstração de afeto ao ter de volta a minha atenção, mesmo eu estando ainda um pouco ressentida com o seu comportamento anterior. De qualquer forma, eu não julgo a dor da Frida, eu também sinto sua ausência quando estamos longe, e devo confessar uma sensação egoísta de satisfação quando sinto que a minha presença é importante para que ela floresça.

"Mesmo nossa própria dor não é tão pesada como a dor co-sentida com outro, pelo outro, no lugar do outro, multiplicada pela imaginação, prolongada em centenas de ecos".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ao amigo ''Pimpim''

Conversas, café, massagens, dançando Cordel até o corpo rodopiar involuntariamente, sapateia! Descança no vento do meu sopro, dorme e acorda, que eu te gosto rouco, fique mais um pouco, fique mais um pouco...
Assovia, canta, batuca, eu sambo, baby, baby, make a mambo. Crise de risos com as mãos no peito para teatralizar a cena, meu passáro, se depena, e se mostra assim, cru. Lindo! Me põe na sua asa e arrêa! A ilha de xangô e de iemajá, yorubá, ileaiê, nesse tapete mágico, quero ir à Cuba com você.

domingo, 25 de abril de 2010


Mal sabe ele o quanto a abarrotou de presentes, ela não teve outra saída, precisou se esvaziar para poder levar para casa aqueles tantos sorrisos guardados, e pela ladeira ela foi largando seus pesares carregados, seu medo da morte, seu relógio-ladainha-das-horas, seus metros e metros de lembretes pra não se esquecer do livro, da reunião, do jornal, do pão... Por fim, carregando na bagagem somente aqueles subtis sorrisos, de tão leve que ficou, pelas ruas a menina flutuava...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Nada siento

...Es que para mí
Todo lo que era amor
dolor, vértigo
nació e murió en mí
nació e murió conmigo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sobre um certo abraço...

...Ele a olha emudecido por alguns segundos, ele pede um abraço, ela tímidamente estende os braços, as mãos dele a rodeia num abraço meio sem jeito, cingindo a parte que cobre o corpo, como se estivesse a protegendo do mundo e daquela maioria vertiginosa que passa apressada do lado de fora da livraria, e ela se sente protegida e vê, por cima dos ombros dele, aquelas pessoas se afastarem com uma fragilidade atroz, e o mundo parece girar como os escritores descrevem nos livros, e por alguns segundos, tudo parece fazer algum sentido.