quarta-feira, 27 de maio de 2009

Quando você volta pra casa (ou: A vontade de se jogar da janela)



A menina preparou um jantar à luz de velas pra comer sozinha,
ela enche duas taças de vinho pra beber sozinha;
bebe as duas, fica tonta, e chora...
Pois quando você vai embora pra sua cidade longínqua,
ela se muda também,
ela arruma as malas pra voltar pro apartamento dela também,
que é onde ela sempre esteve, e é onde nasce um lugar bem distante quando você está lá,
e é triste ter de se reabituar ao apartamento quando ele já não é azul-turquesa, quando os pássaros já não pousam mais na janela, quando tudo volta a ser como era antes e o vento já não soa blues, quando o Sol não nasce na hora que ela bem quer, quando as risadas já são tão as mesmas de outrora...
E mais do que triste, é terrível acordar sem você aqui.
A mala já está pronta, pesada, cheia de lembranças
A menina tem que se apressar pra não perder o vôo de voltar pra cá,
Ainda chorando, ela se apressa, abre a janela do quarto, respira fundo, estica os braços... E voa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Vovô Godot



Quando olhei pro lado, você já não estava mais aqui,
Você se foi rápido demais.
E eu que ficava triste no natal
Logo sorria quando ouvia o seu violão tocar, nem pude retribuir, soprar minha gaita pra você ouvir.
Você partiu tão rápido que nem ouviu as fábulas que inventei.
O seu retrato eles tiraram da parede.
Depois que você foi embora, ninguém nunca mais foi lá, ficou completamente abandonado. Ano passado eu fui, e pintei aquele portãosinho velho de verde-água, que é pra quando você voltar, você ia gostar da cor... Lembro que minha mãe dizia que você tinha ido pro infinito, e eu pensava que era perto de onde fica o Cruzeiro do Sul. E então, quando uma estrela cadente passasse pertinho, você ia se agarrar na sapatilha dourada dela, pra pegar uma caroninha - duvido que não ia! - e ia soltar lá no quintal, só pra vir me visitar, foi por isso que eu deixei aquele monte de folhas bem no meio do quintal, que é pra você não se machucar muito na hora da queda.
Mas desde o dia em que você foi embora, nenhuma estrelinha cadente sequer passou pelo céu...
Saiba que nunca mais poderá ser tudo igual, sem ninguém pra me oferecer mamão bem de manhãzinha, pra me balançar com muita força na rede, pra me chamar de ''Calulina'', pra arremedar a chata da vizinha...
Agora eu nem sinto mais cócegas nas costas. Realmente, eu não poderia.
Você se foi, sem me avisar que ia.